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4 DE DEZEMBRO

Intervenção de Luís Gouveia Fernandes em homenagem a Adelino Amaro da Costa

2013-12-04 | Luís Gouveia Fernandes - Sala do Senado, na Assembleia da República em Lisboa
Intervenção de Luís Gouveia Fernandes em homenagem a Adelino Amaro da Costa

Senhor Primeiro-Ministro,

Senhor Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social e demais membros do Governo,

Senhoras e Senhores Deputados,

Senhores Secretários-Gerais do CDS-PP e do PPD-PSD,

Senhor Presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro,

Caros familiares e Amigos de Adelino Amaro da Costa, Francisco Sá Carneiro e dos demais acompanhantes no dia 4 de Dezembro de 1980,

A organização desta homenagem em conjunto com o Instituto Francisco Sá Carneiro, com o PSD e o CDS é para nós absolutamente natural. As memórias de Francisco Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa que hoje aqui sublinhamos saem reforçadas quando brotam do espírito comum das instituições políticas aqui representadas e é por isso que a evocação de um se estende necessariamente à evocação do outro.

Como Presidente do IDL - Instituto Amaro da Costa cabe-me essencialmente recordar o nosso co-fundador, mas considerem também que as nossas manifestações nesta data, tanto hoje como nos anos anteriores, se dirigem e dirigiram também a Francisco Sá Carneiro, diante de cuja memória me curvo e que saúdo na pessoa do Senhor Primeiro-Ministro, Dr. Pedro Passos Coelho, e do Dr. Carlos Coelho, presidente do instituto que usa o seu nome.

E, assim sendo, começaria por salientar que a evocação da memória de Adelino Amaro da Costa, no dia do aniversário da sua morte, tem o significado especial, este ano, de o fazermos aqui, na sala do Senado do Parlamento.

Foi aqui no Parlamento que Adelino Amaro da Costa, durante os 5 anos de sessões que frequentou, entre 1975 e 1980, primeiro como deputado e depois como governante, demonstrou a sua verdadeira natureza de Par entre todos os membros desta Câmara, de qualquer quadrante político, como é reconhecido por todos os que com ele aqui conviveram, trabalharam e debateram ideias e projectos.

Foram 5 anos de intervenções parlamentares que tiveram à data enorme impacto, pela sua força, determinação, inteligência, facilidade de comunicação e sentido de humor.

Adelino Amaro da Costa foi um brilhante parlamentar, como de resto foi reconhecido desde o primeiro momento. E a sua acção aqui no Parlamento não ficou esquecida. Podemos, de algum modo, seguir os seus testemunhos através da leitura de uma selecção de discursos que foi publicada pela Assembleia da República no ano 2000.

O seu brilhantismo está reflectido também noutros textos, como os Escritos de Governo e os Depoimentos sobre Defesa Nacional, que registaram o seu pensamento durante o curto período de um ano em que exerceu as funções de Ministro da Defesa Nacional no Governo da Aliança Democrática, presidido por Francisco Sá Carneiro.

A memória de Adelino Amaro da Costa vai sendo avivada por quem teve o privilégio de o conhecer, mas também por aqueles que reconhecem que o seu pensamento e acção foram determinantes na construção e consolidação da democracia na 3ª República.

Período curto, mas intenso, à velocidade da luz, durante apenas 6 anos de vida entregues totalmente ao país, à política e ao partido que fundou e dirigiu. Dos 31 aos 37 anos, data da sua morte, há 33 anos.

Fazer tanto em tão pouco tempo e deixar-nos assim tão violentamente, obriga-nos a pensar no que poderiam ter sido esses 33 anos seguintes.

Não no sentido de quem escreve uma história do futuro, como um exercício ficcional, mas antes como um inventário do que não fez e poderia ter feito um homem de 37 anos, que fundou um dos principais partidos portugueses aos 31, foi eleito deputado aos 32 e assumiu as funções de Ministro da Defesa Nacional aos 36.

É estranho pensar assim e dizer isto assim, mas o Adelino Amaro da Costa ficou para sempre como um Under 40.

E a consciência disso faz-nos admirar o que fez, mas também lamentar o que, como quarentão que não chegou a ser, deixou por realizar:

Casou, mas não chegou a ter filhos, nem netos;

Não assistiu, nem participou na Revisão Constitucional de 1982 que extinguiu o Conselho da Revolução, apesar de ter defendido corajosamente essa via e de ter sido o primeiro civil a exercer o cargo de Ministro da Defesa Nacional depois do 25 de Abril de 1974;

Não concluiu em 1984 o mandato do Governo eleito em 1980, nem explorou um eventual acordo com o PPD, principal parceiro de coligação, em termos que ele certamente já teria equacionado;

Não participou no processo e na formalização da adesão de Portugal à União Europeia;

Não participou na campanha presidencial de 1986, ao lado, como sempre, do candidato Diogo Freitas do Amaral;

Não assistiu, nem participou no fim da irreversibilidade das nacionalizações na Constituição, no âmbito da Revisão de 1989, nem nas reprivatizações e consequente dinamização da economia que se seguiu;

Não assistiu à queda do Muro de Berlim, nem à desintegração da União Soviética;

Não participou no processo de criação do Euro, nem no alargamento a leste da União Europeia;

Não está a colaborar na Reforma do Estado;

E por aí adiante.

Não deixa de ser impressionante constatar que as grandes batalhas que o Adelino Amaro da Costa empreendeu não estão concluídas: da luta contra o desequilíbrio demográfico à Reforma do Estado, da liberdade de escolha na Educação ao reforço da sociedade civil e da iniciativa privada; da defesa da Família ao aprofundamento do projecto Europeu.

Todas estas causas continuam actuais e prementes.

Gostaríamos muito que o Adelino Amaro da Costa tivesse participado em todos ou, pelo menos, nalguns destes processos políticos. Sentimos a sua falta e gostávamos de o ter aqui, com a sua determinação e com a sua graça.

Mas é na força da sua fé, na alegria que imprimiu à luta das convicções, no inconformismo que revelou em tudo em que se empenhou que muitos continuam a reconhecê-lo.

E é esse reconhecimento que continua a alimentar e a mobilizar tantos que vêem na sua entrega as sementes que continuam a dar frutos.

A ele, à sua família e aos seus amigos, muito obrigado!

 (*) Intervenção de Luís Gouveia Fernandes, no âmbito da Sessão Evocativa, que teve lugar na Sala do Senado, na Assembleia da República em Lisboa a 4 de Dezembro de 2013.