TEMAS
4 DE DEZEMBRO
Intervenção de Paulo Portas em homenagem a Adelino Amaro da Costa (*)

Monsieur Président du Parti Populaire Européen
Senhor Presidente do IDL
Dirigentes do Partido e do Instituto
Meu caro amigo e, se podemos assim dizer, Embaixador Eugénio Anacoreta Correia - embaixador é-se uma vez, é-se toda a vida
Eu queria, em primeiro lugar, fazer uma saudação - que compreendem - ao Presidente do Partido Popular Europeu. [...]
Queria também dizer nesta cerimónia, que me permite, aliás, em termos pessoais, associar-me à recordação que todos os anos fazemos do que tragicamente sucedeu a Portugal naquele 4 de Dezembro - este ano, por estar a cumprir as minhas funções no Conselho da Nato em Bruxelas, não pude estar na missa que tradicionalmente se celebra nesta ocasião - permite-me, em nome de todo o Partido, lembrar o Eng. Amaro da Costa como aquele que provavelmente a história e os militantes recordarão sempre como o melhor de todos entre nós.
Eu não faço parte da geração que conviveu pessoalmente com o Eng. Adelino Amaro da Costa, mas faço parte da geração que aprendeu a gostar de política, no sentido de serviço nobre a uma causa, com o Eng. Adelino Amaro da Costa.
Como aqui foi referido pelo Eugénio Anacoreta Correia, há muitas gerações de jovens que receberam as suas primeiras, não diria luzes, mas diria, certamente, impressões sobre a política e a ideologia através da formação política que foi garantida pelo Instituto de que aqui falamos e onde hoje estamos. Eu não convivi senão cumprimentando furtivamente o Eng. Amaro da Costa, mas devo dizer que é uma honra muito grande presidir a um Partido que teve entre os seus fundadores vitais o Eng. Adelino Amaro da Costa. No percurso destes quase quarenta anos, eu lembro sempre que, independentemente das mudanças e oscilações, é ao conjunto dos fundadores do CDS que nós devemos a existência do CDS.
E é ao núcleo duro desses fundadores que nós devemos a resistência contra os que queriam eliminar o CDS. Não tendo convivido pessoalmente, para além do cumprimento furtivo, da admiração de um jovem como muitos outros por um extraordinário dirigente político, eu queria apenas dizer aqui hoje aquilo que no CDS se diz e se pensa sobre o Eng. Amaro da Costa, seja qual for a geração e seja qual for a perspectiva.
O Eng. Amaro da Costa é recordado como um militante de extraordinária proximidade com os outros. Ele viveu um tempo em que a política tinha muitos riscos, incluindo riscos de vida. E nunca a circunstância da importância que ele tinha - dizem todos os militantes que o conheceram - lhe deu qualquer espécie de arrogância perante os outros e, pelo contrário, o Eng. Amaro da Costa era um homem de uma extraordinária proximidade - e eu já ouvi contar histórias absolutamente extraordinárias e verdadeiras sobre a sua disponibilidade para os outros e para os outros que não conhecia.
Esta é a primeira característica que eu gostava de lembrar. Ele era fundador. Era o número dois porque queria ser o número dois. Era indiscutido. E era de uma enorme simplicidade e proximidade, como são os homens grandes e as almas maiores.
A segunda forma como ele é recordado é como dirigente. Como é normal na vida de um partido democrático, há sempre sensibilidades, há sempre diferenças que são democraticamente resolvidas pela forma adequada. O Eng. Amaro da Costa nunca foi recordado como chefe de facção. Aliás, não se diz "amarismo" ou "costismo". O Eng. Amaro da Costa era o CDS. Foi sempre um político unificador no Partido e acho que sempre contribuiu para diminuir as divergências e aumentar as convergências. Ele é recordado como um homem de união do Partido.
O terceiro elemento que eu considero essencial é lembrá-lo como muito provavelmente os seus adversários o lembram e respeitam: Amaro da Costa, porventura um dos maiores estrategos políticos que o sistema democrático português conheceu.
Foi em grande medida Adelino Amaro da Costa que concebeu e ajudou a traduzir a estratégia do CDS, um Partido que a facção sectária da Revolução queria ilegalizar: o Partido que teve a coragem de votar contra uma constituição socialista. Foi o Eng. Amaro da Costa que ajudou a conceber a estratégia de como é que um Partido que tinha esta firmeza podia ser reconhecido e aceite como um dos partidos de Governo para o futuro de Portugal. E foi ele que concebeu a então pouco compreendida aliança, em circunstâncias de emergência nacional, que, aliás, foi breve e precária, quando o CDS esteve pela primeira vez no Governo. E hoje, muitos anos passados, toda a gente percebe que esse foi o selo de legitimação de que o CDS precisava para ser um dos partidos de Governo.
E foi essencial o contributo dele para se compreender um facto que nunca mais abandonou a política portuguesa. O Eng. Amaro da Costa foi essencial a conceber a ideia de que Portugal era governável sem a esquerda, e, se necessário, contra a esquerda, através da aliança entre o CDS e o PSD, formando uma frente para reformar o País e o livrar de perigos maiores. E essa ideia, comungada por Sá Carneiro e Freitas do Amaral - é preciso, evidentemente, salientá-lo e reconhecê-lo -, transformou completamente a vida política a partir de 1979. Até 1979 parece que o País não era governável fora da fronteira dos partidos que tinham votado a Constituição ou aceite todos os factos da apropriação socialista da nossa vida política.
O Eng. Amaro da Costa foi determinante nessa transformação estratégica e os políticos que o conheceram, os jornalistas que o entrevistaram, os amigos que beneficiaram do seu convívio, lembram todos essa vertente do génio estratégico, em movimento, que fervilhava nele, e que permitiu ao CDS, não só o selo internacional, como também o selo de legitimidade nacional que o povo lhe dava mas que alguns, em nome do povo, lhe queriam tirar.
Lembro também Amaro da Costa, o parlamentar, porventura um dos mais brilhantes parlamentares que o País conheceu. A alegria, a humanidade, a ironia, a inteligência, a resposta pronta, a capacidade de admitir as ideias dos outros, a argumentação sólida - num tempo em que muitas vezes não se usava gravata no Parlamento, e ainda se fumava no Plenário, e onde a Assembleia da República corria o risco de dia sim dia não estar cercada, porque havia sempre gente que achava que tinha mais poder e autoridade do que autoridade e o poder que o povo tinha dado àqueles que lá estavam.
E Amaro da Costa é recordado como um parlamentar de excepção - e criou, aliás, no CDS, uma marca e uma tradição: quer sejam melhores ou piores os momentos que vivemos, termos sempre parlamentares com qualidade e isso ser uma distinção.
Enfim e para terminar, Amaro da Costa, o homem de Estado, essencial para a reorganização do sector da Defesa - e eu sei bem do que falo, pelas razões que compreendem. Foi ele que ajudou a tornar saudavelmente mais civil um regime ilegitimamente apropriado por uma facção militar. E Amaro da Costa, se quiserem, o doutrinário, manifestamente um homem confortável com uma ideia social cristã da vida, do País e do mundo, para quem valores como a liberdade de educação - a que ele dedicou muito tempo -, a liberdade de escolha - a que ele dedicou muita energia -, a empresa e a família - a que ele entregava muita convicção -, a tolerância e o saber vencer os outros por termos melhores ideias, sem precisar de ofender quem quer que seja, são marcas que ficaram para sempre do Eng. Amaro da Costa.
E por isso eu saúdo o IDL por esta iniciativa, saúdo a memória da herança extraordinária que ele deixou e, mais uma vez, agradeço ao presidente Martens que, por causa do CDS, correu alguns riscos, e que ajudou o CDS a ser ouvido e respeitado em termos internacionais. Sem ambos, era difícil imaginar o percurso que a democracia cristã fez em Portugal.
Não posso deixar de saudar também a presença do meu caro Mário David, amigo, vice-Presidente do PPE, e eurodeputado pelo PSD, com quem, aliás, troco frequentemente ideias.
Bem hajam a todos.
[APLAUSOS]