TEMAS
ECONOMIA
O Turismo como alavanca de desenvolvimento no Portugal Pós-Troika (*)

Boa tarde a todos. Obrigado pelo convite e pelas palavras do Pedro Pestana Bastos. Se me trouxerem uma ficha de sócio do IDL, eu assino. Aliás, eu tenho várias edições do IDL em casa, da Revista Democracia e Liberdade e várias publicações sobre a Democracia Cristã. Não está aqui o título da minha palestra, mas era para ser, de que forma é que o Turismo pode ser um motor ou uma alavanca da economia.
É uma coisa muito frequente, como Secretário de Estado, ouvir muito isso, pelo turismo é que vai ser, pelo turismo é que devemos ir, mas eu gostava de dizer que isso reporta sempre para um futuro e a verdade é que os números apontam para um sector que não está em crise. Portugal tem todos os anos mais turistas que no ano anterior. E mais importante que ter mais turistas, tem mais dormidas que tinha no ano anterior, porque, como sabem, um turista que durma sete noites vale tanto como sete turistas que durmam uma só, e as receitas do turismo, ou seja, as receitas da conta satélite do INE sobre o turismo sobem todos os anos, subiram em 2011 e subiram em 2012 mais 5%. Portanto, não podemos falar de crise num sector cujas receitas aumentam todos os anos mesmo numa época de crise. O que é que não está a subir nesta matéria de turismo, são os proveitos da hotelaria, ou seja, nós temos mais turistas, temos mais dormidas, mas os preços são mais baixos. Já vou falar da questão dos preços porque é importante para demonstrar uma das linhas, um dos principais problemas do turismo actualmente, mas também para vos dar só conta de que Portugal, de acordo com a Organização Mundial de Turismo, é um dos vinte países mais competitivos do mundo em matéria de turismo.
Em termos de competitividade, somos mais competitivos do que a Itália, e temos ao nosso lado um terceiro maior destino do mundo que é Espanha. Temos o quarto maior destino do mundo que é França, e temos o segundo maior do mundo que é a Itália. Nós competimos em termos geográficos com os pesos pesados, por isso é que às vezes não resisto a tentar dizer que não é com a Espanha que nós não nos podemos comparar, pelo menos do ponto de vista do peso no turismo, e, portanto, o turismo não só não está em crise, como é um sector muito competitivo em Portugal. O mérito disto não é do Governo, nem é do Estado, é, de facto, dos recursos turísticos que temos, dos produtos que conseguimos criar através deles e da iniciativa privada que os soube fazer. Eu só refiro estes números para poder dar conta da importância do turismo como actividade económica e não propriamente para tirar proveito dessa questão.
O turismo vale 9,5% do PIB e representa 13% das nossas exportações e 8% do emprego que é gerado em Portugal é na área do turismo. Isto é o peso económico do turismo. Mas o turismo tem muito a perder e a meu ver com problemas gerados inclusivamente pelo próprio sector. Quando tive o primeiro contacto com o sector tentei passar essa mensagem, mas há uma enorme confusão entre turismo e hotelaria, como se, para podermos investir em turismo ou para podermos ter uma política de turismo, tivéssemos de nos preocupar com a hotelaria ou apenas a hotelaria. Do ponto de vista conceptual isso é errado. Hoje em dia o turismo não é alojamento, o turismo é experiência, portanto é aquilo que um turista sente vivo e experimenta no seu destino e aquilo que leva de recordação e, portanto, o alojamento é uma componente importante, mas há outras componentes muito importantes. Esta excessiva preocupação com o alojamento e com a necessidade de criarmos mais e mais alojamento, trouxe-nos a esta circunstância de termos excesso de oferta.
O excesso de oferta, para alguém que é, como eu, um liberal, não seria um problema, a não ser que o excesso de oferta tivesse sido provocado pelo Estado, que foi o que sucedeu. Houve várias políticas públicas de incentivo à construção, também no turismo, o que inflacionou os números, expectativas de crescimento da área do turismo e, portanto, nós criámos um parque hoteleiro de grande qualidade, mas em excesso. Para vos dar uma noção do excesso, para Portugal ter uma média este ano de 50% de taxa de ocupação, estamos a falar só de 50% de taxa de ocupação, precisávamos que a nossa procura este ano crescesse 25%, o que é um número manifestamente exagerado e precisávamos que não se construísse mais nenhum hotel, o que também é exagerado porque há vários hotéis a serem construídos, há vários a ser inaugurados, e, portanto, o excesso de oferta é um problema que os próprios hoteleiros sentem, combatem pelo preço, sendo certo que o hoteleiro, não sei se está aqui algum? Mas um hoteleiro é capaz de, de manhã dizer que está preocupado com os preços no caso da hotelaria, com o excesso de oferta, e à tarde estar eventualmente a entregar no Turismo de Portugal um projecto para a construção de um novo hotel e, portanto, a mensagem de que há um excesso de oferta é polémica, vinda de um Secretário de Estado do Turismo, mas é a minha obrigação, porque aponta para a única parte do sector que não está bem e aponta para a necessidade de olharmos para o turismo de uma forma um bocadinho distinta daquilo que é só a hotelaria.
Então o que é o turismo? O turismo são experiências. Vou tentar exemplificar um pouco mais. O que Portugal tem e que qualquer país tem são recursos, recursos turísticos. Por exemplo, nós temos uma praia, temos mar e temos sol, o que está aqui não é nem um produto de turismo, nem um destino, são recursos. Para que isto seja um produto turístico é preciso que tenha condições para receber turistas, para que eles lá estejam, que possam usufruir e viver a sua experiência e ir para casa com vontade de poder voltar.
Isto também não faz um destino, nós podemos ter vários produtos, mas para ter um destino precisamos de o projectar, ele precisa de ser conhecido, precisa de ser reconhecido, precisa de ter uma projecção que faça com que as pessoas se identifiquem com isso. E uma luta constante nesta área do turismo é tentar demonstrar aos hoteleiros, aos autarcas, aos turistas, que somos todos nós e que achamos que todos nós temos ideias para o turismo, é esta separação entre o recurso, temos que estruturar um produto e transformar o produto num destino. Para vos dar um exemplo, estive há pouco tempo no Alentejo, no Alqueva, e o Alqueva é um extraordinário recurso, não há ali nada, há ali muito pouca coisa e ali vive-se a típica discussão da área do turismo que é não há turistas, porque não há alojamento, não há alojamento, porque não há turistas, não há turistas, porque não há animação, não há animação porque não há turistas, não há turistas porque não há alojamento.
Acontece com isto, como acontece com os voos. Não há autarca nenhum que não diga que se tivesse ali um aeroporto - e aí o aeroporto de Beja não consegue ser de qualquer das maneiras ainda uma evidência do fracasso dessa tese -, se houvesse mais voos havia mais turistas e então eu vou ter com a TAP, porque o Algarve, para vos dar um exemplo, queixa-se de não ter os voos suficientes, que a TAP não lhe dá a atenção suficiente para poder projectar. Vou ter com a TAP e ela diz-me, arranjem turistas e eu levo para lá os voos. É verdade que já foram fechadas algumas rotas aéreas, portanto, para construirmos uma política de turismo, nós temos que avançar ao mesmo tempo com estas questões todas, temos que criar, pegar nos recursos que nós temos e criar produto turístico. Isso passa pela oferta hoteleira, que já existe, mas passa também pela requalificação dos espaços, da parte ambiental, passa pela competitividade daquilo que oferecemos e dos serviços que oferecemos, passa pela recuperação do património, passa pelas acessibilidades e, portanto, passa pela interligação com as outas actividades económicas.
Portanto, o turismo não é só o alojamento, não é só hotelaria e a primeira preocupação que tive foi tentar perceber de que forma o turismo está interligado com as outras actividades económicas, mesmo quando se projecta lá fora, e não está, não existe essa interligação. Para vos dar um exemplo, há acções de promoção de vinho no estrangeiro que não falam com as acções de promoção de turismo, que também não falam das acções de promoções da parte cultural, que também não falam com as acções de promoção da cerâmica, para vos dar quatro exemplos, o que significa que nós estamos a tentar projectar o destino de Portugal e tudo isto contribui para projectar o destino, não é só as praias, quando nós temos prémios de arquitectura a ganhar lá fora, temos jovens criadores lá fora, temos cantores lá fora, estamos a projectar uma imagem, quando temos a nossa gastronomia lá fora, os nossos cozinheiros lá fora, estamos a projectar uma imagem e a tornarmo-nos conhecidos. Não há nenhuma interligação entre estas áreas da governação. Por isso no próximo ano vamos fazer um modelo de promoção em que haja maior interligação e coordenação entre as diversas imagens, para projectar o destino de uma determinada maneira.
Portanto, primeira ideia, turismo não é só alojamento, abrange outras actividades económicas que contribuem para os recursos e para construção dos produtos e é preciso coordenação entre estas áreas. Depois estávamos aqui a falar na mesa, é necessário quem tem interesse em ter turistas, possa exercer a sua actividade, e isso é um trabalho que pode parecer muito comezinho, porque provavelmente habituámo-nos, durante muitos anos, a ter ministros do turismo que o que queriam era grandes investimentos hoteleiros e a pensarem em grande. É, de facto, preciso criar condições para que os hoteleiros possam ter uma animação turística que querem ter nas praias à sua frente e não podem porque no inverno não têm, ou porque não há época balnear e o Estado não deixa, ou aqueles que querem ter uma empresa de desportos radicais no interior do país e não pode ser, porque há questões de segurança e aquilo é um parque natural e não se pode deixar por causa dos rios e dos peixes, ou porque quem quer fazer operações de navegação tem que levar uma tripulação, que nenhum país europeu exige, e nós cá exigimos, por questões de segurança, portanto, aumentam os custos e as empresas não vêm para cá.
Esse trabalho é um trabalho que estamos a tentar fazer. Começámos já com a liberalização do acesso às actividades de animação turística em muitas áreas e na diminuição das taxas, mas há muito trabalho a fazer, na simplificação da criação de produto turístico, não só no alojamento, como disse, mas na animação turística, ou seja, que é o termo para poder dizer que tudo aquilo que possa fazer com que o turista queira ficar aqui.
E a verdade é que, quando se fala em fundos e em política de turismo, olhamos muito para a forma como o Governo está organizado e para os departamentos governamentais. A mim não me choca que eu perca verbas, para elas irem para a recuperação do património cultural, perco-as do ponto de vista departamental, não é? O meu departamento fica com menos dinheiro porque foram parar ao património, mas elas contribuem muito para o turismo, da mesma maneira que se nós conseguirmos ter o litoral mais organizado e, portanto, vai parar a um ambiente mais organizado e mais bonito, também contribui para o turismo e há durante muito tempo esta objecção, de olhar para as áreas de governação como quintas. Eu preciso deste dinheiro para aqui, independentemente de ele depois poder ser para abrir mais hotéis onde já não são precisos. Quando eu lhes falo deste excesso de oferta e, portanto, dizer que temos excesso de oferta, temos que apostar na animação turística, na requalificação dos nossos destinos, e na projecção dos nossos destinos, não estou a dizer que não deve haver mais oferta, acho que sim, deve haver mais oferta sempre que o projecto for bom, e portanto não estou a pôr limites administrativos à entrada de novos planos, o que estamos a fazer não é isso, o que nós estamos a fazer é redireccionar os apoios que o Estado dá, através dos fundos comunitários, não para a construção, mas para estas áreas, para a requalificação. Nós precisamos, há muita oferta hoteleira que precisava de ser requalificada e em Portugal existe muito a sensação que, para investir em hotelaria, em vez de requalificar o nosso hotel, vamos abrir um outro hotel, vamos expandir e não requalificar.
Portanto, estamos a desviar os apoios para a requalificação, por outro lado, a estrutura empresarial em Portugal, no sector do turismo, é muito autonomizada, é pequena. Os grandes grupos que representam menos de 10% do total de camas e do total da oferta e é preciso direccionar esses recursos para a produtividade, para essas empresas, na sua internacionalização, colocando os seus produtos à venda lá fora. Se forem aceites muitos dos hotéis percebem que isto ainda é uma necessidade. Temos uma economia pouco internacionalizada, pouco competitiva. Esqueci-me de dizer isto ao princípio, é o problema de falar de improviso, um dos desafios do turismo é que, com a democratização das viagens, hoje em dia o turista dinamarquês tanto pode vir para Lisboa, como pode ir para Bangkok, pagando um bocadinho mais, evidentemente, mas nós hoje competimos com o mundo inteiro e, portanto, temos que estar permanentemente actualizados relativamente àquilo que se faz no mundo inteiro.
Há muitos fundos e verbas comunitárias que deveriam ir para o reforço da competitividade das empresas, para encontrar novos mecanismos de gestão, para evitar a primeira coisa que elas devem fazer, quando sentem dificuldade, é baixar o preço, como está a acontecer, e para poder conhecer melhor a procura turística. Durante muitos anos, porque nós tínhamos uma situação geográfica privilegiada, e as viagens não estavam tão democratizadas, bastava-nos abrir hotéis e a procura aparecia. Hoje em dia o turista, eventualmente, também perceberá, porque também está muito mais culto, muito mais exigente, é mais poupado, gosta mais de ter mais por menos e, portanto, é preciso conhecer melhor a procura.
Para vos dar um exemplo de algo que parece evidente, mas não é: Portugal é um extraordinário destino de golfe, fizemos bem a coisa, uma coisa que às vezes acontece também em Portugal, temos os melhores campos da Europa e não há um registo de todos os golfistas que vêm a Portugal, ou seja, não há como fidelizá-los, não há ainda essa experiência porque, como as entidades empresariais são muito autonomizadas, não criaram ainda o nível de associativismo que seria desejável para uma nova fase e este nível de associativismo tem sido uma linha permanente no meu discurso com o sector. Estamos a trabalhar no reforço dessas vertentes associativas, porque há muito trabalho a fazer, para podermos também colocar os privados a trabalhar mais na promoção do que naquilo que eles fazem.
Para vos dar dois exemplos de como o associativismo é importante, no Alentejo, na Costa Vicentina, existem vários hotéis, vários turismos de habitação. Perceberam um dia que, em vez de estarem a lutar entre eles para ficarem com os turistas, deviam criar uma rota. Criaram-se rotas para caminhantes ou para quem queira andar de bicicleta, que é um segmento importante do turismo e eu entro no primeiro turismo de habitação e consigo fazer o check-in logo, para os outros todos, apesar de serem concorrentes. E eles próprios, dum hotel para outro levam as minhas malas, porque eu vou a andar ou vou de bicicleta. Levam as minhas malas para o hotel seguinte. As taxas de ocupação subiram, estas pessoas não vieram bater à porta do Governo a dizer: temos aqui uma Costa Vicentina extraordinária que o mundo inteiro devia conhecer. Depois já vou explicar os dilemas da promoção, toda a gente devia conhecer a Costa Vicentina e o Governo devia ir buscar turistas para aqui, mas eles não fizeram isso, perceberam que tinham que criar uma cultura associativa e fizeram produto do recurso que tinham, refizeram o destino e estão a construir um destino.
Outro exemplo de como a associação é, deu-se um passo em frente, é o caso do turismo residencial, que é a venda de segundas casas no sul da Europa, Portugal, Espanha, Itália, Grécia, que é para as pessoas do norte da Europa, de qualquer parte do mundo, passar a sua reforma ou até terem a sua casa de férias.
Portugal tem uma quota de mercado inferior a 5% na bacia do Mediterrâneo. Espanha tem 50%, portanto, é uma desproporção absoluta, que não tem qualquer sustentação, é desproporcional face à população, é desproporcional face aos turistas, o que é que nós fizemos? O Governo criou um programa de turismo residencial ou seja um regime fiscal atractivo e vistos para quem quiser comprar essas casas e esse regime foi feito e a promoção desse regime. Cabe à associação de resorts, nós desviamos recursos comunitários para a Associação Portuguesa de Resorts, que é quem tem essas casas para vender, permite ao Governo fazer uma coisa importante, escoar parte do imobiliário que temos em excesso, permite captar investimento estrangeiro, mas a promoção, quem vai tentar vender, é a Associação Portuguesa de Resorts, são os maiores interessados que a coisa se faça. Quando apresentamos o programa os jornalistas, perguntaram, quantas casas os senhores estão à espera de vender? Eu respondi que o estado não é a "Remax", o jornalista não percebeu muito bem, riu-se, e eu disse, é verdade, eu limitei-me a criar as condições para quem queira vender, consiga vender e quem quer comprar, compre. Não me cabe a mim andar aí pela Europa a tentar vender casas que nem sequer são minhas, mas dos portugueses. A Associação Portuguesa de Resorts pegou nisto e agora está a fazer o seu caminho, criou-se um produto e está a fazer o seu caminho.
Promoção, hoje recebi o presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Minho, que acha que o Alto Minho é desvalorizado na promoção. Recebi um presidente de câmara de Trás-os-Montes que também acha, um da Beira também acha, um do Alentejo também acha. Sintra acha que Lisboa não lhe liga nenhuma e que não têm projecção, Cascais a mesma coisa. O Porto que é desvalorizado relativamente a Lisboa, o Alentejo que ninguém conhece e devia conhecer, o Algarve, bom, Madeira e Açores. Nós temos 54 milhões de euros para fazer a promoção, e, portanto, com estes 54 milhões, qual é a nossa preocupação? Em primeiro lugar, temos que projectar o destino de Portugal, que ao contrário do que aquilo que nós pensamos, não é conhecido de toda a gente, começa-se a falar, começa a ser conhecido e nós temos que ter uma linguagem comum para Portugal e depois temos que, em vez de estarmos preocupados com regiões, temos que promover aqueles que são os nossos principais produtos, que é o sol e mar, que é o golfe, que é o turismo da natureza, e o turista não quer saber se está no concelho de Silves ou se, no momento, a seguir já passou por Lagoa, e, em Portugal, isso é muito importante, porque se nós não fizermos uma promoção ao concelho de Silves e só fizermos a Lagoa, cai o Carmo e a Trindade e, portanto, ponto um, temos necessidade de ter para o produto uma linguagem comum, Portugal promove o destino de Portugal.
Dentro disto, temos que ter uma campanha que seja suficientemente ágil, para poder competir com as outras campanhas e ser precisa no momento da comercialização e da venda. O que é que eu quero dizer? Se tivermos, como já tivemos, mupis ou cartazes em Londres a dizer que temos as melhores praias do mundo - temos lá dois porque não temos dinheiro para mais - e 14 na Turquia, a nossa campanha perde-se. Hoje em dia, as compras são feitas online, são feitas nas agências de viagens, são feitas nos operadores, por isso a nossa promoção tem que ser direccionada por esses momentos onde a escolha se faz, a decisão se faz, e isso permite-nos ter uma campanha mais segmentada porque é muito mais barata, permite-nos dividir por produtos e acompanhar e fidelizar as pessoas que nos procuram e permite-nos actuar mais rapidamente.
Para vos dar um exemplo, dei instruções aos delegados do Turismo de Portugal, no estrangeiro, nos destinos que emitem para a Turquia, instruções para irem contactar já todos os operadores turísticos para promover Portugal. Nós íamos fazê-lo mais tarde e neste momento a Turquia pode ser um problema e sem querer levantar um problema diplomático, nós não vamos fazer qualquer tipo de comparação entre Portugal e a Turquia, mas vamos antecipar campanhas. Mas não é uma campanha online só, nem vamos gastar dinheiro na televisão, vamos às agências de viagens, vamos aos operadores. O que é que eles querem para vir para Portugal? Estes senhores precisam, estão aqui estes hotéis, estão aqui estes programas, o que é que os senhores precisam? Portanto, começar a redireccionar, porque hoje em dia é assim que as coisas se fazem. Depois o apoio às empresas. Nós temos uma enorme preocupação que é a seguinte: o turismo tem uma enorme capacidade de crescimento porque todos os anos estamos a crescer e, portanto, há várias realidades, há empresas que estão muito bem, não precisam de ajuda, há empresas que têm dificuldades conjunturais da crise, mas têm projectos viáveis e para essas nós estamos a criar, aliás, já criámos instrumentos de financiamento, quer de linhas de apoio à tesouraria, quer linhas de consolidação bancárias para as ajudar, mas só nos projectos viáveis. E depois temos os projectos inviáveis, que muitas das vezes são extraordinários, chegamos lá e ficamos maravilhados com o que encontramos, só que o preço por quarto é impagável, não se paga em parte nenhuma do mundo, e o dinheiro dos contribuintes não serve para perpetuar maus investimentos e não é fácil tomar estas decisões, porque, por um lado, são projectos sempre de grandes grupos, nunca é um pequeno rapaz que decidiu fazer uma coisa que lhe custa, para vos dar uma ideia, o quarto deve custar, num investimento para ser rentável, entre 100 mil euros, 200 mil euros, portanto, o preço do investimento, dividido pelo numero de quartos, deve andar por aqui. Há outros projectos em Portugal que custam um milhão de euros por quarto, abertos há pouco tempo e que perspectivas de futuro tem aquilo? A não ser que possa ter uma promoção específica. Estes projectos, e esse é um desafio que o Secretário de Estado do Turismo tem, quando diz sim ou não, devem ou não devem ser apoiados do ponto de vista de financiamento, por melhores que sejam, por mais extraordinários que sejam. Se as suas hipóteses de rentabilidade são baixas, e isto coloca-nos o problema de saber como é que isto foi aprovado etc..., mas isto é tudo uma outra conversa, mas para vos dar conta que estamos a tentar direccionar o apoio para as empresas viáveis, com dificuldades conjunturais e que, provavelmente, vão ouvir várias vezes dizer que o Estado se recusou a salvar algum investimento. Isso vai acontecer, o que também tem custos sociais e políticos, políticos são evidentes, sociais, porque muitas vezes estamos a falar de emprego e, portanto, estamos a falar de pessoas que vão para o desemprego, mas, de facto, pela forma como eu entendo o meu cargo, não posso utilizar o dinheiro dos contribuintes para perpetuar maus investimentos. Para além disto, nesta política pública de turismo, o que também estamos a fazer, por um lado, é coordenar com outras áreas de governação que não estavam a ser coordenadas, dar um maior relevo ao papel dos privados e associativos, agilizar e desburocratizar a actividade das empresas que trabalham na área do turismo e também na área das hotelarias. Estamos a eliminar taxas e a mudar o modelo de promoção, a deixar de ter a promoção física tradicional e a mudar para online e cortar com o número de eventos que eram apoiados. É por isso que também aparecia nos jornais que não apoiámos o Estoril Open, que se chama Portugal Open, reduzimos o dinheiro para apoiar eventos, estamos a direccionar para a comercialização, para as agências de viagens e para os operadores e temos esta reconversão dos mecanismos de financiamento para a requalificação, para o apoio para os projectos viáveis, e para as empresas de animação turística.
Dito isto, e só para terminar, há um outro problema que o turismo enfrenta em Portugal, que é sua excessiva politização. Nós estamos muito dependentes de autarcas, muito dependentes das entidades regionais de turismo. É um esforço grande despolitizar as decisões do turismo. Para vos dar um exemplo de como isto pode ser problemático, quando reduzimos o número de eventos que estamos a promover, temos que ter a preocupação de só promovermos eventos ou financiarmos eventos que possam projectar o destino de Portugal, é essa a logica, mas se esses cinco eventos forem em Lisboa, já viram que essa decisão é impossível de tomar, portanto, estamos sempre a levar ou a ser confrontados com necessidades de fazer ponderações políticas e aquilo que estamos a fazer é despolitizar. Para vos dar conta, apesar de eu não me queixar da falta de cobertura jornalística, há coisas que não me vão ver a fazer, porque acho que não devem ser feitas por um Secretário de Estado, a campanha que nós lançámos para este ano, não tem nome, não tem assinatura, porque eu quero ter a certeza que o próximo Secretário de Estado, não tem a necessidade de ir a correr fazer uma outra, porque toda a gente sabe que esta é a minha campanha e há este esforço de despolitização do turismo e por outro lado de falta de direccionamento da nossa oferta.
Termino já com isto, para dar um exemplo prático, eu acho que não cabe ao Secretário de Estado do Turismo, não cabe ao Governo escolher os turistas que quer, que é típico, só em Portugal é que se ouve esta conversa, que queremos ter turismo de qualidade. Sinceramente, acho que Veneza não está nada preocupada com os turistas que recebe, nem Paris, nem os grandes destinos, nem a Turquia que é um dos países que está a crescer mais, mais de 100% por cento por ano, em termos de turistas, não está preocupado se nós vamos gastar lá 300 euros ou 1.500 euros. Em Portugal convencionou-se, Porquê?
Porque houve um ministro que quis importar o seu modelo de turismo, que é o dele, e eu penso que isso não é papel do Secretário de Estado do Turismo. E para vos dar um exemplo prático de como uma interferência política tem resultados dramáticos é que essa política de direccionamento para o turismo de qualidade, para hotéis de 4 estrelas e hotéis de 5 estrelas, até podia ter alguma lógica, se nós tivéssemos feito com que fossem poucos, para eles poderem ter as receitas necessárias para poder cobrir as despesas. Neste momento, com os hotéis de 5 estrelas a praticarem preços de 3 estrelas, essa política acabou por não ter os resultados esperados e, portanto, é uma demonstração de como uma decisão de política pública pode ter impacto na economia e, pronto, tinha muito mais coisas para dizer, mas isto são algumas linhas e, termino, com a resposta à pergunta o que é que o turismo vai ser? O turismo é das poucas actividades que efectivamente está a crescer e é uma área de investimentos, é uma área de emprego e, sinceramente, tenho muita sorte por tutelar esta área, mas sorte porque ela não está em recessão, mas mais uma vez digo, que não está em recessão por causa dos empresários do sector, não é com certeza por causa do Estado ou do Governo ou das políticas públicas.
Obrigado
(*) Transcrição da palestra de Adolfo Mesquita Nunes.